Tal como esperava, o meu último post acabou por suscitar opiniões diversas.
“Funes, o memorioso”, pergunta-me o que entendo por pedofilia, diz-me que escrevi uma série de dislates e que os meus comentadores não foram mais racionais.
Já conheço o caríssimo Funes (ou pelo menos o que ele escreve) desde há algum tempo, por isso aceitei a sua provocação. Também sei que Funes é profissional do Direito e que as suas opiniões são por vezes polémicas. Ás vezes tenho a sensação de que tem verdadeiro prazer em provocar, por isso não gosto de o deixar sem resposta. Acho-lhe piada e gosto de ser provocada, por isso, em jeito de post, cá vai a resposta.
Caro Funes:
Em primeiro lugar, deixo-lhe aqui a resposta da Wikipedia:
«A pedofilia (também chamada de paedophilia erotica ou pedosexualidade) é uma parafilia na qual a atracção sexual de um indivíduo adulto está dirigida primariamente para crianças pré-púberes ou ao redor da puberdade. A palavra pedofilia vem do grego παιδοφιλια < παις (que significa "criança") e φιλια ("amizade").
A pedofilia é classificada como uma desordem mental e de personalidade do adulto, e também como um desvio sexual, pela Organização Mundial de Saúde. Os actos sexuais entre adultos e crianças abaixo da idade de consentimento (resultantes em coito ou não) são enquadrados como crime na legislação de inúmeros países. Em alguns países, o assédio sexual a tais crianças, por meio da Internet, também constitui crime. Outras práticas correlatas, como divulgar a pornografia infantil ou fazer sua apologia, também configuram actos ilícitos.
Sigmund Freud dizia ser a pedofilia "perversão dos fracos e impotentes”.
A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, aprovada em 1989 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, define que os países signatários devem tomar "todas as medidas legislativas, administrativas, sociais e educativas" adequadas à protecção da criança, inclusive no que se refere à violência sexual”.»
Já Fernando Gomes da Costa, define pedofilia do seguinte modo:
“A pedofilia é uma psicopatologia, uma perversão sexual com carácter compulsivo e obsessivo, na qual adultos, geralmente do sexo masculino, apresentam uma atracção sexual, exclusiva ou não, por crianças e adolescentes impúberes. Alguns autores consideram a pedofilia uma síndrome (conjunto de sinais e sintomas) que ocorre em diversas psicopatologias.”
O dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora diz o seguinte:
Substantivo feminino
1. atracção sexual patológica de um adulto por crianças;
2. prática de actos sexuais com crianças, considerada crime.
No entanto, sei que a sua provocação não pretende saber o que dizem estas fontes, já que basta uma busca na Internet para as encontrar. Sei que a sua provocação, como é costume, pretende lançar um desafio com tendência a ver as coisas de outro modo.
Assim, deixe-me provocar também.
Sem qualquer intenção de ofensa ou “agoiro”, gostaria que me respondesse ao seguinte:
Tem crianças na sua família, não tem? Eu tenho. Até tenho uma criança que aparentemente conviveu durante algum tempo com um professor, alegado pedófilo. Felizmente, não foi vítima, mas podia ter sido.
Agora pergunto-lhe o que faria se uma das crianças da sua família fosse forçada ou seduzida por um adulto a manter relações sexuais. Ou a masturbar esse adulto, ou a fazer sexo oral (por aqui somos todos adultos, não somos?). Ou obrigada a “contemplar” os órgãos sexuais de um adulto. Será que compreenderia que esse adulto era apenas um doente? Se a resposta é “sim”, deixe que admire a sua capacidade humana de tolerância para com este tipo de “doentes”.
Há casos documentados de pessoas com desejos por crianças que antes de sequer tentarem tocar uma única criança, pedem ajuda a psicólogos e psiquiatras. Porque essas pessoas sabem que esse ímpeto não é normal e pode acabar para sempre com a vida de uma criança, futuro adulto. Esses sim, são doentes. Aqueles que usam de todas as artimanhas para violar crianças, para as sodomizar, torturar, fotografar e filmar em actos íntimos, não são doentes, são apenas criminosos sem perdão.
Sim, caro Funes, eu conheço a filosofia penal da recuperação e integração do criminoso. Mas na maioria das vezes, para não dizer todas, nem o sistema penal, nem nenhum outro consegue impedir pessoas com esta perversão de voltar a cometer o mesmo crime. Uma vez pedófilo, sempre pedófilo. E se o melhor do mundo são as crianças, não nos cabe a nós sociedade, defendê-las por todos os meios?
Quanto a si, caro Funes, talvez fosse capaz de perdoar e entender que um fulano qualquer roubasse a infância das suas crianças. Talvez fosse capaz de ficar satisfeito com uma pena de prisão aplicada por um qualquer juiz.
Eu não ficaria satisfeita. Peço desculpa aos mais sensíveis, aos que defendem os direitos humanos, ao mundo inteiro se quiser, mas se um criminoso desses tocasse numa das minhas crianças, lhe violasse o corpo ou a inocência, morreria. Acredite, morreria, talvez mesmo às minhas mãos. Pode dizer-me que assim me tornaria tão criminosa quanto o pedófilo. E se depois um familiar desse pedófilo me fizesse o mesmo e me desse um tiro na cabeça? Seria olho por olho e dente por dente? Aceito isso. Mas como disse logo no inicio do meu ultimo post, este tema mexe verdadeiramente comigo. Revolta-me, faz-me perder as estribeiras e a racionalidade.
Longe vai o tempo em que “pedófilo” queria apenas dizer “amigo das crianças”.