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Teorias

A Maria Papoila é a típica portuguesa, que tal como todos os bons portugueses tem sempre uma teoria acerca de tudo e de todos e não vê mal algum em impingir as suas opiniões aos mais desprevenidos...

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Conversar

Ás vezes, ver nascer o dia ao lado do nosso melhor amigo, enquanto bebemos uma chávena de chocolate quente é a melhor forma de acabar a noite, ou de começar um novo dia.
A madrugada é propícia a confidências, não importa o teor das conversas, importa a confiança que se deposita naqueles que nos ouvem e a paz que sentimos depois de despirmos a alma e acalmarmos o espírito.
O limbo entre o recolher da lua e o nascer do sol é bom conselheiro. Leva-nos a conversar, a falar sem medo do mundo lá fora.
Esta é talvez uma das melhores formas de nos sentirmos conciliados com a humanidade, e muito provavelmente com nós próprios.
Penso que se os grandes líderes deste mundo se reunissem mais vezes debaixo do crepúsculo matutino haveria menos guerras, menos fome e mais humanidade, porque nesses momentos, o Homem é mais verdadeiro.
A minha geração vive muito de noite. É pena que na maioria das vezes seja apenas para dançar.
Conversar é preciso!

terça-feira, janeiro 23, 2007

Justiça

Tinha 16 anos e engravidou do namorado. Era excelente aluna e imaginou a vida a desmoronar-se. Por indicação de uma amiga, dirigiu-se a uma enfermeira-parteira para fazer um aborto. Uma vez em casa da enfermeira, descobre que afinal está grávida há mais tempo do que pensava. A enfermeira fala em perigo de vida e aconselha-a a ter a criança, porque já era tarde demais para interromper a gravidez. Desesperada, diz que não quer um filho, não agora!
É então que a enfermeira lhe fala de um casal, que apesar de já ter uma filha biológica com 18 anos, queria mais um bebé e nunca conseguiu tê-lo. É uma boa família, muito unida e com boas condições de vida.
Alguns meses depois, a criança nasce em casa da tal enfermeira que fazia abortos clandestinos.
A família que tanto ansiava mais um filho, vai imediatamente buscar o menino. A rapariga, cansada do esforço do parto, espreita por uma porta, sem ser vista, e acha que os pais que escolheu para o seu filho têm um ar simpático e afável. Os olhos deles brilham como se tivessem visto o menino Jesus em pessoa.
A enfermeira passa uma declaração em que afirma ter assistido ao parto em casa dos senhores fulano de tal e no local onde deve escrever o nome da mãe, inscreve o nome da mãe do coração.
O marido da senhora foi imediatamente à conservatória e registou o menino como seu.
Para todos os efeitos, aos olhos da lei, aquela criança é seu filho legítimo.
O menino cresceu e é já um homem, bem formado e muito amado.
A rapariga que o deu à luz, é hoje uma grande médica e salva vidas.
É esta a história em que duas realidades, muito discutidas na actualidade do nosso país, se tocam.
É esta história que demonstra que não se fazem abortos de ânimo leve, mas que também nos chama à atenção para as dificuldades que a justiça levanta à adopção.
Entre a penalização do aborto e as dificuldades da adopção, ficam milhares de crianças sem família e institucionalizadas. Ou pior ainda, ficam milhares de crianças sujeitas à miséria e aos maus-tratos de pais que as não desejaram.
Não defendo que a situação relatada se repita pelo país fora, mas não posso deixar me regozijar, porque este casal salvou uma criança de anos de institucionalização.
Assim, enquanto os nossos juízes não atenderem ao SUPERIOR interesse da criança, não podemos condenar actos deste género.
Senhores juristas, quando se fala em SUPERIOR interesse, a palavra SUPERIOR, deve querer dizer alguma coisa, não?
Quando estão em causa crianças, a justiça não pode ser cega...

segunda-feira, janeiro 15, 2007

A voz da inocência

Depois de muita insistência, a mãe lá o deixou ficar acordado até tarde para ver um programa cuja publicidade lhe despertou o interesse. “O melhor português de sempre”, era um título sugestivo para quem começou há pouco tempo a interessar-se pela História de Portugal.
Ficou satisfeito quando viu que Camões e o Marquês de Pombal estavam entre os favoritos e iniciou um discurso sobre as duas personagens.
O pai, enquanto o filho palrava, comenta com a mulher: “Olha o Salazar também está entre os 10 primeiros.”
O miúdo de 9 anos pára de falar por um momento e diz:” Vou-me deitar. Se o Salazar ganhar, prefiro ser espanhol…”
E foi assim, que numa casa portuguesa onde não se proclamam ódios viscerais a Salazar, a voz da inocência falou.
Não vi o programa, mas a avaliar pelo que me dizem, há ainda muita gente por aí fora que admira um ditador cujo feito principal foi deixar um país que ainda hoje paga caro o atraso de que ele, o ditador, é o principal culpado.
Pensei que quando se falava em “Melhor Português” se queria eleger aquele que mais e melhor tinha feito pelo país.
Diz o filósofo José Gil que a sombra de Salazar ainda paira sobre nós. Sendo que uma criança de 9 anos faz o comentário que faz e sendo que o ditador aparece entre os dez mais votados pelo povo, José Gil tem de facto razão.
Quanto tempo mais teremos de esperar pela morte de Salazar? Quase 40 anos depois, ele continua vivo e a influenciar a vida deste nosso Portugal.

domingo, janeiro 14, 2007

Sabedoria?

Aquele homem nunca falhou uma missa de Domingo até ao dia em que o Padre, amigo de longa data, lhe disse que os doentes estavam dispensados de participar no culto.
A partir daí, o senhor só vai à missa quando a saúde lhe permite fazê-lo sem sacrifício.
Aquele homem, apesar de só ter a quarta classe, trabalhou durante vários anos num hospital, chegando a estar presente na sala de cirurgia. Eram tempos diferentes e muito distantes. O homem que aqui descrevo tem 76 anos.
Este homem, tem 4 filhos e 4 netos. Nunca levantou a mão para dar um açoite em nenhum. Na rua, se vê uma mãe bater num filho, ainda hoje se abeira e lhe passa um verdadeiro sermão sobre como se deve amar e tratar uma criança. Ao longo da vida, foi granjeando amizades entre as crianças e actualmente mima o neto mais novo ao ponto de “o estragar”.
Há cerca de um mês, após ter assistido a uma missa de Domingo, chegou a casa indignado. Como podia o Padre apelar tão apaixonadamente ao “NÃO” no referendo sobre a despenalização do aborto?
Se o Padre tivesse visto, como ele viu, mulheres à beira da morte por causa de um desmancho mal feito! Se tivesse visto mães de 7 filhos a apertarem as pernas no momento do parto e crianças a nascerem roxas e sem vida! Se tivesse visto crianças abandonadas algumas horas depois de chegarem a este mundo! Se tivesse visto mães solteiras e sem o apoio de ninguém, assustadas e infelizes após o parto…
Porque hão-de morrer estas mulheres?
Porque hão-de as mulheres ir parar sozinhas à cadeia, se para se fazer um filho são precisos dois seres humanos?
Este homem, que levou uma vida moral quase irrepreensível, quer ir votar SIM, no referendo sobre o aborto.
Este homem é o meu avô, e mais uma vez, entre tantas outras, ganhou a minha admiração. Não se preocupe “Vôzinho”, no dia do referendo eu levo-o à mesa de voto.

terça-feira, janeiro 09, 2007

Comparações

Não há português que se preze que não afirme convictamente que o povo do nosso país não gosta de trabalhar ou que trabalha pouco. Os governantes falam constantemente da baixa produtividade do país. Os números não mentem. A ideia geral é a de que a maioria dos portugueses não procura trabalho, procura emprego.
Muitas vezes, referimos países cujo crescimento e produtividade deveriam servir-nos de exemplo. Ouço falar no Japão como um desses países: os japoneses são conhecidos por passarem muitas horas no local de trabalho.
Para meu espanto, diz-me um amigo a morar há algum tempo no Japão, que os japoneses passam de facto muito tempo no emprego, mas que não passam todas essas horas a trabalhar. Na verdade, eles chegam a adormecer no escritório, ou a passar muitas horas por lá sem fazer nada, só porque parece bem ficar no emprego 20 horas seguidas.
Esse meu amigo conta ainda que uma reunião no Japão, serve geralmente para não decidir nada. Sempre que é preciso negociar algo, ou decidir qualquer coisa, são múltiplas as reuniões e o tempo vai passando e demora muito até se chegar a uma qualquer conclusão.
No Japão, é hábito que um novo empregado passe os seis primeiros meses de trabalho sem fazer nada, apenas tendo de marcar presença, durante muitas horas, no local de emprego.
É nesta altura da conversa que eu pergunto como é possível eles fazerem como fazem e terem o país que têm.
A maioria dos portugueses não sai do emprego às 4 da tarde como os nórdicos, a maioria dos portugueses trabalha logo a partir do primeiro dia num novo emprego e mesmo assim, temos o país que temos: salários baixos, inflação crescente, tristeza, miséria.
Não entendo, a sério que não. Só encontro uma explicação: os políticos que temos (e somos nós que os elegemos).
Já dei instruções ao meu amigo para que investigue como fazem os japoneses para conseguirem trabalhar tanto como nós e ter uma vida melhor. Se o meu amigo conseguir perceber, garanto-vos que havemos de ter um bom ministro das finanças, com estágio feito no Japão.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

2007

E agora?