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Teorias

A Maria Papoila é a típica portuguesa, que tal como todos os bons portugueses tem sempre uma teoria acerca de tudo e de todos e não vê mal algum em impingir as suas opiniões aos mais desprevenidos...

sábado, abril 25, 2009

HOJE


Desde pequena, a cada 25 de Abril, pedia à minha mãe: “conta, mãe, conta como foi naquele dia”.
“Já estava na cama” dizia a minha mãe, que daí a meses completava 20 anos. “A tia Luz entrou-me no quarto.” Num quarto da casa dos meus avós, algures no pobre e isolado Douro, onde a maioria das estradas eram de terra batida e as crianças trabalhavam no campo.
“Levanta-te, disse-me ela, andar ver na televisão, está a começar a revolução.”
Cheias de receio, lá foram elas, plantar-se em frente à televisão. Lá, na longínqua Lisboa, começava a revolução. Pensaram que haveria guerra civil e já tarde foram para a cama, onde a ansiedade as mordia, à espera da manhã seguinte.
“ E nessa manhã, foi uma grande festa?” perguntava eu, do alto dos meus oito ou nove anos, já consciente de que tinha existido uma PIDE e um ditador.
“Na manhã seguinte havia medo, não se falava da revolução nas ruas e mesmo em casa sussurrávamos. A verdadeira festa veio uns dias depois, no 1º de Maio, quando fomos para a rua, com as crianças no carro enfeitado com rosas vermelhas do jardim e os mais velhos nos repreenderam, porque ainda não se sabia no que aquilo ia dar.”
“Deve ter parecido um sonho, não é verdade, mãe?” perguntava eu, invejosa de não ter vivido aqueles dias.
“ Sim, parecia um sonho. Parecia que a partir daquele momento tudo seriam rosas e cravos vermelhos na lapela. Parecia que a vida seria uma festa. A cada dia descobríamos coisas novas e esperanças nunca sentidas.”
Trinta e cinco anos… E agora mãe, o que é que eu e os outros havemos de fazer?