Provocações
Tal como esperava, o meu último post acabou por suscitar opiniões diversas.
“Funes, o memorioso”, pergunta-me o que entendo por pedofilia, diz-me que escrevi uma série de dislates e que os meus comentadores não foram mais racionais.
Já conheço o caríssimo Funes (ou pelo menos o que ele escreve) desde há algum tempo, por isso aceitei a sua provocação. Também sei que Funes é profissional do Direito e que as suas opiniões são por vezes polémicas. Ás vezes tenho a sensação de que tem verdadeiro prazer em provocar, por isso não gosto de o deixar sem resposta. Acho-lhe piada e gosto de ser provocada, por isso, em jeito de post, cá vai a resposta.
Caro Funes:
Em primeiro lugar, deixo-lhe aqui a resposta da Wikipedia:
«A pedofilia (também chamada de paedophilia erotica ou pedosexualidade) é uma parafilia na qual a atracção sexual de um indivíduo adulto está dirigida primariamente para crianças pré-púberes ou ao redor da puberdade. A palavra pedofilia vem do grego παιδοφιλια < παις (que significa "criança") e φιλια ("amizade").
A pedofilia é classificada como uma desordem mental e de personalidade do adulto, e também como um desvio sexual, pela Organização Mundial de Saúde. Os actos sexuais entre adultos e crianças abaixo da idade de consentimento (resultantes em coito ou não) são enquadrados como crime na legislação de inúmeros países. Em alguns países, o assédio sexual a tais crianças, por meio da Internet, também constitui crime. Outras práticas correlatas, como divulgar a pornografia infantil ou fazer sua apologia, também configuram actos ilícitos.
Sigmund Freud dizia ser a pedofilia "perversão dos fracos e impotentes”.
A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, aprovada em 1989 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, define que os países signatários devem tomar "todas as medidas legislativas, administrativas, sociais e educativas" adequadas à protecção da criança, inclusive no que se refere à violência sexual”.»
Já Fernando Gomes da Costa, define pedofilia do seguinte modo:
“A pedofilia é uma psicopatologia, uma perversão sexual com carácter compulsivo e obsessivo, na qual adultos, geralmente do sexo masculino, apresentam uma atracção sexual, exclusiva ou não, por crianças e adolescentes impúberes. Alguns autores consideram a pedofilia uma síndrome (conjunto de sinais e sintomas) que ocorre em diversas psicopatologias.”
O dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora diz o seguinte:
Substantivo feminino
1. atracção sexual patológica de um adulto por crianças;
2. prática de actos sexuais com crianças, considerada crime.
No entanto, sei que a sua provocação não pretende saber o que dizem estas fontes, já que basta uma busca na Internet para as encontrar. Sei que a sua provocação, como é costume, pretende lançar um desafio com tendência a ver as coisas de outro modo.
Assim, deixe-me provocar também.
Sem qualquer intenção de ofensa ou “agoiro”, gostaria que me respondesse ao seguinte:
Tem crianças na sua família, não tem? Eu tenho. Até tenho uma criança que aparentemente conviveu durante algum tempo com um professor, alegado pedófilo. Felizmente, não foi vítima, mas podia ter sido.
Agora pergunto-lhe o que faria se uma das crianças da sua família fosse forçada ou seduzida por um adulto a manter relações sexuais. Ou a masturbar esse adulto, ou a fazer sexo oral (por aqui somos todos adultos, não somos?). Ou obrigada a “contemplar” os órgãos sexuais de um adulto. Será que compreenderia que esse adulto era apenas um doente? Se a resposta é “sim”, deixe que admire a sua capacidade humana de tolerância para com este tipo de “doentes”.
Há casos documentados de pessoas com desejos por crianças que antes de sequer tentarem tocar uma única criança, pedem ajuda a psicólogos e psiquiatras. Porque essas pessoas sabem que esse ímpeto não é normal e pode acabar para sempre com a vida de uma criança, futuro adulto. Esses sim, são doentes. Aqueles que usam de todas as artimanhas para violar crianças, para as sodomizar, torturar, fotografar e filmar em actos íntimos, não são doentes, são apenas criminosos sem perdão.
Sim, caro Funes, eu conheço a filosofia penal da recuperação e integração do criminoso. Mas na maioria das vezes, para não dizer todas, nem o sistema penal, nem nenhum outro consegue impedir pessoas com esta perversão de voltar a cometer o mesmo crime. Uma vez pedófilo, sempre pedófilo. E se o melhor do mundo são as crianças, não nos cabe a nós sociedade, defendê-las por todos os meios?
Quanto a si, caro Funes, talvez fosse capaz de perdoar e entender que um fulano qualquer roubasse a infância das suas crianças. Talvez fosse capaz de ficar satisfeito com uma pena de prisão aplicada por um qualquer juiz.
Eu não ficaria satisfeita. Peço desculpa aos mais sensíveis, aos que defendem os direitos humanos, ao mundo inteiro se quiser, mas se um criminoso desses tocasse numa das minhas crianças, lhe violasse o corpo ou a inocência, morreria. Acredite, morreria, talvez mesmo às minhas mãos. Pode dizer-me que assim me tornaria tão criminosa quanto o pedófilo. E se depois um familiar desse pedófilo me fizesse o mesmo e me desse um tiro na cabeça? Seria olho por olho e dente por dente? Aceito isso. Mas como disse logo no inicio do meu ultimo post, este tema mexe verdadeiramente comigo. Revolta-me, faz-me perder as estribeiras e a racionalidade.
Longe vai o tempo em que “pedófilo” queria apenas dizer “amigo das crianças”.
“Funes, o memorioso”, pergunta-me o que entendo por pedofilia, diz-me que escrevi uma série de dislates e que os meus comentadores não foram mais racionais.
Já conheço o caríssimo Funes (ou pelo menos o que ele escreve) desde há algum tempo, por isso aceitei a sua provocação. Também sei que Funes é profissional do Direito e que as suas opiniões são por vezes polémicas. Ás vezes tenho a sensação de que tem verdadeiro prazer em provocar, por isso não gosto de o deixar sem resposta. Acho-lhe piada e gosto de ser provocada, por isso, em jeito de post, cá vai a resposta.
Caro Funes:
Em primeiro lugar, deixo-lhe aqui a resposta da Wikipedia:
«A pedofilia (também chamada de paedophilia erotica ou pedosexualidade) é uma parafilia na qual a atracção sexual de um indivíduo adulto está dirigida primariamente para crianças pré-púberes ou ao redor da puberdade. A palavra pedofilia vem do grego παιδοφιλια < παις (que significa "criança") e φιλια ("amizade").
A pedofilia é classificada como uma desordem mental e de personalidade do adulto, e também como um desvio sexual, pela Organização Mundial de Saúde. Os actos sexuais entre adultos e crianças abaixo da idade de consentimento (resultantes em coito ou não) são enquadrados como crime na legislação de inúmeros países. Em alguns países, o assédio sexual a tais crianças, por meio da Internet, também constitui crime. Outras práticas correlatas, como divulgar a pornografia infantil ou fazer sua apologia, também configuram actos ilícitos.
Sigmund Freud dizia ser a pedofilia "perversão dos fracos e impotentes”.
A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, aprovada em 1989 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, define que os países signatários devem tomar "todas as medidas legislativas, administrativas, sociais e educativas" adequadas à protecção da criança, inclusive no que se refere à violência sexual”.»
Já Fernando Gomes da Costa, define pedofilia do seguinte modo:
“A pedofilia é uma psicopatologia, uma perversão sexual com carácter compulsivo e obsessivo, na qual adultos, geralmente do sexo masculino, apresentam uma atracção sexual, exclusiva ou não, por crianças e adolescentes impúberes. Alguns autores consideram a pedofilia uma síndrome (conjunto de sinais e sintomas) que ocorre em diversas psicopatologias.”
O dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora diz o seguinte:
Substantivo feminino
1. atracção sexual patológica de um adulto por crianças;
2. prática de actos sexuais com crianças, considerada crime.
No entanto, sei que a sua provocação não pretende saber o que dizem estas fontes, já que basta uma busca na Internet para as encontrar. Sei que a sua provocação, como é costume, pretende lançar um desafio com tendência a ver as coisas de outro modo.
Assim, deixe-me provocar também.
Sem qualquer intenção de ofensa ou “agoiro”, gostaria que me respondesse ao seguinte:
Tem crianças na sua família, não tem? Eu tenho. Até tenho uma criança que aparentemente conviveu durante algum tempo com um professor, alegado pedófilo. Felizmente, não foi vítima, mas podia ter sido.
Agora pergunto-lhe o que faria se uma das crianças da sua família fosse forçada ou seduzida por um adulto a manter relações sexuais. Ou a masturbar esse adulto, ou a fazer sexo oral (por aqui somos todos adultos, não somos?). Ou obrigada a “contemplar” os órgãos sexuais de um adulto. Será que compreenderia que esse adulto era apenas um doente? Se a resposta é “sim”, deixe que admire a sua capacidade humana de tolerância para com este tipo de “doentes”.
Há casos documentados de pessoas com desejos por crianças que antes de sequer tentarem tocar uma única criança, pedem ajuda a psicólogos e psiquiatras. Porque essas pessoas sabem que esse ímpeto não é normal e pode acabar para sempre com a vida de uma criança, futuro adulto. Esses sim, são doentes. Aqueles que usam de todas as artimanhas para violar crianças, para as sodomizar, torturar, fotografar e filmar em actos íntimos, não são doentes, são apenas criminosos sem perdão.
Sim, caro Funes, eu conheço a filosofia penal da recuperação e integração do criminoso. Mas na maioria das vezes, para não dizer todas, nem o sistema penal, nem nenhum outro consegue impedir pessoas com esta perversão de voltar a cometer o mesmo crime. Uma vez pedófilo, sempre pedófilo. E se o melhor do mundo são as crianças, não nos cabe a nós sociedade, defendê-las por todos os meios?
Quanto a si, caro Funes, talvez fosse capaz de perdoar e entender que um fulano qualquer roubasse a infância das suas crianças. Talvez fosse capaz de ficar satisfeito com uma pena de prisão aplicada por um qualquer juiz.
Eu não ficaria satisfeita. Peço desculpa aos mais sensíveis, aos que defendem os direitos humanos, ao mundo inteiro se quiser, mas se um criminoso desses tocasse numa das minhas crianças, lhe violasse o corpo ou a inocência, morreria. Acredite, morreria, talvez mesmo às minhas mãos. Pode dizer-me que assim me tornaria tão criminosa quanto o pedófilo. E se depois um familiar desse pedófilo me fizesse o mesmo e me desse um tiro na cabeça? Seria olho por olho e dente por dente? Aceito isso. Mas como disse logo no inicio do meu ultimo post, este tema mexe verdadeiramente comigo. Revolta-me, faz-me perder as estribeiras e a racionalidade.
Longe vai o tempo em que “pedófilo” queria apenas dizer “amigo das crianças”.
18 Comments:
At 2/8/07 11:42, Vício said…
pobres dos que se julgam mais racionais que os demais e donos do conhecimento...
não há ninguém melhor que eu!
não sou melhor que ninguém!
At 2/8/07 14:37, António Conceição said…
Tem crianças na sua família, não tem? Eu tenho. Até tenho uma criança que aparentemente conviveu durante algum tempo com um professor, alegado pedófilo. Felizmente, não foi vítima, mas podia ter sido.
Agora pergunto-lhe o que faria se uma das crianças da sua família fosse forçada ou seduzida por um adulto a manter relações sexuais. Ou a masturbar esse adulto, ou a fazer sexo oral (por aqui somos todos adultos, não somos?). Ou obrigada a “contemplar” os órgãos sexuais de um adulto. Será que compreenderia que esse adulto era apenas um doente?
Estou com muito pouco tempo disponível. Depois passo cá para o comentário que o seu post merece. Para já, respondo à parte fácil da questão.
Se um dos meus filhos fosse vítima de um pedófilo, é muito provável que eu o matasse.
O que se passa é que isso era um acto de vingança, não era um acto de justiça.
Há uns tempos cheguei ao carro que tinha deixado estacionado numa rua e encontrei o vidro da porta partido e o painel da frente, do volante ao porta-luvas, completamente destruído. O ladrão tinha tentado arrancar o auto-rádio e, como não o tinha conseguido, destruiu tudo.
Também achei na altura que o indivíduo em causa devia ser pregado pelas orelhas a uma porta, o seu sorriso aberto dos dois lados com uma lâmina, os olhos cosidos com fio de pesca, depois de previamente lhe terem sido inoculadas duas injecções de penicilina nas pupilas, as abas do naris arrancadas com um alicate e por aí fora.
Não acha razoável que se faça isto a um tipo que tentou roubar um carro, pois não?
É muito fácil, no direito penal, entrarmos na senda do disparate, quando nos deixamos levar por emoções e por sentimentos nobres, mas primários.
Volto mais logo, para abordar a essência da questão.
At 2/8/07 16:51, Patrícia Pêra said…
Um tema polémico, sem dúvida. Mexe muito com as pessoas, ao ponto de as fazer querer cometer justiça com as próprias mãos.
É de facto uma situação muito complicada de gerir e é por isso que existem tribunais, porque abordam o caso com um olhar imparcial e objectivo.
A emoção e a razão são coisas difíceis de conciliar.
At 2/8/07 17:09, Maria Papoila said…
Caro Funes:
Vejo que se exaspera por coisas muito mais banais do que eu. Um carro é só um bem material. Os gatunos mereciam uma bela coça.
Um post em que dizemos honestamente que algo nos mexe com as tripas e que caso acontecesse no nosso quintal não exitariamos em partir para a violência não é um estudo de direito, nem de psicologia, é apenas uma opinião, não é um disparate. De qualquer modo, digo-lhe já, mesmo antes de saber a resposta que precisou de elaborar, que se algum dia eu me passar e matar um desses montes de lixo, já sei a que advogado recorrer. Quem sente do modo como você sente o direito penal, será com certeza o defensor ideal. Já me estou a ver a safar-me e a sair em braços... Tudo em prol da filosofia penal.
At 2/8/07 23:54, Anónimo said…
"hesitar"---não queira contribuir para o assassinato da Língua Portuguesa na internet.
At 3/8/07 00:33, António Conceição said…
Cara Maria Papoila,
Antes de mais: o primeiro dever do advogado é recusar os caso para os quais não se sente com competência técnica.
Nunca cultivei nem pratiquei o direito penal. Durante o estágio, em 1986, por obrigação e sem empenho nem gosto, defendi meia dúzia de tipos que tinham excedido os limites de velocidade, um gajo que se esquecera que tinha a 4.ª classe e um doido que furtara um porco.
Foi tudo.
Por razões deontológicas relacionadas com a minha absoluta incompetência na matéria, vejo-me, pois, forçado a declinar o patrocínio que queria solicitar-me.
Vamos ao assunto:
Escreve a minha amiga; "E se o melhor do mundo são as crianças, não nos cabe a nós sociedade, defendê-las por todos os meios?"
Como sabe, essa frase das crianças como o melhor do mundo é um simples jogo de poeta qua não significa absolutamente nada.
Quem melhor retratou a excelsa bondade das criancinhas foi William Golding, em "O Deus das moscas". Mas adiante.
As modernas sociedades ocidentais são sociedades progressivamente envelhecidas, onde as crianças são um bem cada vez mais escasso. Daí, também, cada vez mais precioso.
Esta circunstância propicia o disparate.
Ainda neste fim de semana os jornais divulgavam em grandes parangonas o estudo de um patarata qualquer que sustentava que, para ter um crescimento normal e saudável, a criança não podia estar afastada da mãe mais do que meia dúzia de horas por semana e que, portanto, sob pena de estarmos a destruir a humanidade, o lugar da mulher era em casa a educar os filhos.
A obssessão histérica com a pedofilia é outra das atoardas que a escassez de crianças na nossa sociedade tornou moda.
Vejamos, na verdade: o que é que a pedofilia tem de tão horrendamente medonho em relação aos outros crimes que justifique a sanha assassina com que a Maria Papoila e os seus comentadores se atiraram a ela?
Absolutamente nada, evidentemente. É uma moda.
Há três ou quatro anos, uma miúda acabada de entrar numa faculdade qualquer de veterinária foi obrigada pelos colegas mais velhos, a título de praxe, a submeter-se às humilhações mais torpes e soezes que parece incluíram o ser obrigada a enterrar a cara num pote de merda de vaca.
Não ficou traumatizada para toso o resto da vida?
Evidentemente que sim.
Alguém se comoveu com o assunto?
Sim. Umas vozes reles elevaram-se a protestar contra as queixinhas da catraia que não queria aceitar as regars das tradições académicas.
Há menos tempo ainda, em Vila Nova de Famalicão, numa cerimónia da praxe de uma tuna qualquer, um aluno foi seviciado e espancado até à morte.
Não sei bem como é que aquilo ficou no Tribunal, mas só a mãe do rapaz se incomodou seriamente com o assunto. Para o resto do mundo todo foi um excesso da rapaziada, uma chatice que correu mal, mas não era com má intenção. Era só para integrar o miúdo no ambiente académico.
Ao invés, um indivíduo é apanhado no Parque Eduardo VII a pagar 50 euros a um puto de 15 anos que sabe perfeitamente ao que vai e o aceita e aqui d'el-rei que anda aqui um facínora pedófilo, que há que prender, registar, torturar, capar e matar.
Que horror assim tamanho tem o sexo com adolescentes que o querem e aceitam e não tem os casos da praxe descritos?
Absolutamente nenhum. Só que a pedofilia está na moda. Os crimes da praxe (por enquanto), não.
É possível que daqui a dez anos as coisas tenham mudado e, fartos do caso "Casa Pia" que continuará então nos Tribunais, já ninguém se incomode com a pedofilia e toda a gente pergunte horrorizada como é que foram possíveis os crimes da pedofilia. E não faltarão os posts eufóricos e histéricos a exigir a demissão, e a prisão, e a tortura dos reitores, que sabiam de tudo e nada fizeram. Um disparate.
O caso é que a minha amiga Papoila fala da pedofilia, como se a pedofilia fosse um mal absoluto, um mal em si mesmo, infame e abominável.
Não é. É apenas um horror culturalmente determinado, circunstanciado e delimitado no tempo.
Na nossa cultura burguesa e envelhecida, a pedofilia é um horror. Mas não é o horror absoluto que o seu post deixa transparecer, como se o pedófilo fosse a encarnação do próprio mal.
Se vir, a Idade Média está cheia de casamentos de reis trintões com princesas de doze ou treze anos que eram logo consumados.
Era natural. A esperança de vida não ia além dos quarenta anos e as pessoas tinham que morrer com essa idade, deixando os filhos criados. Para isso, tinham que se reproduzir logo aos treze, catorze ou quinze.
Não era nenhum drama.
Também sem dramas, um conhecido poeta e pedófilo - Manuel Teixeira Gomes - chegou em pleno séc. XX, à presidência da República Portuguesa.
O que torna o acto pedófilo traumatizante não é o acto em si mesmo. É o facto de, pela sua raridade, ele permitir que a vítima de pedofilia se sinta distinta e diferenciada dos demais. Ela foi violentada, os outros não. Se todos fossem violentados, não havia problema nenhum.
Pense, por exemplo, na circuncisão entre os judeus.
Haverá lá agressão sexual mais traumatizante do que a circuncisão (deixemos para outra ocasião o problema da excisão que tem carcaterísticas diferentes, mais graves)?
E, no entanto, ela não é absolutamente nada traumática, porque é universal. Traumático, será, porventura, não a fazer.
Ora, o problema na pedofilia é que nós tendemos a medir tudo pela nossa bitola burguesa.
Dou-lhe um exemplo: a minha irmão trabalha numa instituição de solidariedade social, onde quase diariamente lhe aparecem miúdas de treze ou catorze anos, grávidas do pai, do avô, do tio...
Isto, obviamente, é trágico. Mas não é para elas especialmente traumatizante. Foi também esse o destino das suas mães, avós, vizinhas. Elas proprias são fruto de relações incestuosas das suas mães, quando tinham treze anos.
Não pretendo defender ou vindicar a pedofilia. Pretendo apenas chamar-lhe a atenção que o asco, o ódio, a revolta que este crime lhe causa - em comparação com a aparente tranquilidade com que encara o homicídio, o rapto, a tortura (pelo menos, estes não lhe motivaram posts) - são descabidos, desproporcionados e disparatados.
tenho também a sensação que não a convenci.
At 3/8/07 00:36, António Conceição said…
Perdoe-me e releve-me os erros ortográficos sem fim.
At 3/8/07 03:06, Anónimo said…
Bem, para um gajo que é advogado, estas declarações são no mínimo hilariantes!! Querem ver que a sociedade não evoluiu e teremos de nos reger pelos ideais da Idade Média...
Então, vamos começar a queimar na fogueira os videntes e a enforcar os criminosos... e a foder à grande e à francesa os putos! A bem dos bons e velhos costumes LOL
At 3/8/07 09:05, António Conceição said…
Pois é isso mesmo. Amunikhe. Do ponto de vista moral, a sociedade evolui muito pouco, se é que evolui alguma coisa.
E não tenha a mais pequena dúvida de que muitos dos nossos melhores ideiais são da Idade Média, época de relativa tolerância de que, perdoe-me que lhe diga, Amunikhe revela pouco conhecimento.
Mas eu ajudo: As fogueiras da Inquisição entre nós, ou a perseguição às bruxas de Salem na América não ocorreram na obscura Idade Média. O enforcamento de Saddam Husseim, festejado pela América e com direito a transmissão televisiva, também tenho ideia que não terá ocorrido na Idade Média.
Claro que é sempre mais simples aceitar sem pensar os lugares comuns da história e falar da noite negra da Idade Média. Como é mais simples aceitar sem pensar as modas das novelas televisivas e mostrar um horror bem pensante à pedofilia, deixando, ao mesmo tempo passar com absoluta indiferença e sem o mais leve incómodo a orgia criminosa que vai correndo pelo Darfur, por exemplo.
At 3/8/07 10:05, Maria Papoila said…
Querida Magnohlia:
Tem raz�o, toda a raz�o. � o que faz escrever �s pressas. Leia outros posts e ver� que por aqui este tipo de situa�o n�o se repete.
Obrigada pela visita.
Caro Funes:
Se bem me lembro, �O Deus das Moscas� � uma obra de fic�o. Julgo n�o estar equivocada, mas os meninos retratados nesse livro n�o chegaram � ilha ainda beb�s. Julgo tamb�m que aquilo resulta em confus�o e viol�ncia porque os mi�dos decidem imitar os adultos que conheciam e fazer como eles fariam, organizar-se como esses adultos organizariam. Mas olhe, j� li o livro h� muito tempo, por isso n�o lhe posso garantir se a impress�o com que fiquei corresponde � realidade do que foi escrito por Golding.
Pergunta �o que � que a pedofilia tem de t�o horrendamente medonho em rela�o aos outros crimes� e compara-a a rituais de praxe, praticados em maiores de idade, ou perto disso.
Olhe, tamb�m eu fui praxada, mas n�o fiz nada que n�o quisesse. A figurinha rid�cula do �Dux� chamou-me � aten�o e eu disse-lhe para chamar a pol�cia e vim embora. Tudo porque tinha idade para saber defender-me e como manter a minha dignidade. N�o fui ostracizada por causa disso, mas se fosse, j� tinha idade para saber lidar com a situa�o.
Depois, reduz a pedofilia aos mi�dos adolescentes que se prostituem. Parece-me que para si a pedofilia se resume a casos do g�nero �Casa Pia�. N�o creio que os adolescentes envolvidos nestes casos saibam exactamente o que est�o a fazer, mas olhe, j� nem lhe falo nisso. Digo-lhe apenas que a pedofilia n�o � apenas procurar mi�dos que se prostituem, nem s� violar as meninas adolescentes da fam�lia e engravid�-las. A pedofilia � tamb�m violar meninas com 4 ou 5 meses que morrem estropiadas ou que ficam com os �rg�os sexuais e reprodutivos destru�dos para o resto da vida. Talvez n�o se lembre de um menino portugu�s que por ser deficiente n�o podia queixar-se e morreu devido �s viola�es constantes de um padrasto de 16 anos que at� vassouras de pia� lhe introduziu no �nus. E com isto, poupo-o a descri�es mais gr�ficas. Estas crian�as, t�o pequenas, n�o sabem nem podem defender-se.
Talvez a pedofilia esteja na moda para aqueles que s� ouviram falar dela depois da �Casa Pia�, mas quem tiver um conhecimento real da situa�o, sabe que a pedofilia sempre existiu (o que n�o a torna leg�tima) e que cada vez mais � um neg�cio e que cada vez mais atinge beb�s e crian�as muito pequenas.
A pedofilia n�o � s� pagar a um adolescente inconsciente para fazer sexo. A pedofilia � tortura e viola�o de crian�as. A pedofilia � com�rcio de filmes e fotografias de sodomia, de viola�o, de tortura e de terror, vendidos e realizados por verdadeiros monstros.
Fala-me tamb�m da circuncis�o e compara-a a agress�o sexual. N�o �. Olhe, tenho amigos que tiveram a necessidade de a fazer aos 18 anos. Foi um acto m�dico e asseguro-lhe que n�o ficaram traumatizados, porque viram a sua vida sexual melhorada.
Diz-me que reis trint�es casaram com meninas de 13 anos e tem raz�o. Tal como tem raz�o quando diz que nesse tempo a esperan�a de vida rondava os 40 anos. Ou seja, a idade adulta chegava mais cedo. Olhe, tamb�m nessa �poca ( e ainda agora, em alguns pa�ses) crian�as de 5 e 6 anos trabalhavam no campo. A sociedade evolui e j� nasceram e morreram tantos g�nios pensadores, que temos a obriga�o de saber mais e fazer melhor.
Quanto ao homic�dio, ao rapto e � tortura, fique sabendo que me causam igual revolta. A minha fam�lia j� foi atingida pelo assassinato mais que uma vez e custa muito ver o assassino sair em liberdade meia d�zia de anos depois.
Para terminar, deixe congratular-me com a sua conclus�o final. N�o me convenceu, � verdade. � dif�cil convencer algu�m esclarecido, n�o �?
Caro Amunikhe:
Tenha cuidado com a �l�ngua�. ;))
Obrigada pela visita, volte sempre.
At 3/8/07 10:07, Maria Papoila said…
Não sei o que deu ao blogger, mas não vou escrever o texto todo outra vez. Peço desculpa pelas letras "comidas".
At 3/8/07 11:42, António Conceição said…
Cara Maria Papoila,
A porcaria dos quadradinhos a substituir o texto dificulta, de facto, a leitura do seu texto, mas não vale a pena re-escrevê-lo. No essencial, percebi-o.
Não foi por acaso que a minha primeira intervenção foi a perguntar-lhe o que era a pedofilia.
É que quem misturou tudo e juntou actos aberrantes com bebés e crianças com práticas sexuais entre um adulto e um adolescente com vontade própria não fui eu. Foi a Maria Papoila, na senda do pensamento politicamente correcto que nos chega da América.
Eu tive, na verdade, a preocupação de distinguir. É que a mim repugnam-me tanto como a si os crimes sobre criancinhas sem conhecimento nem vontade e não os confundo com crimes que consistem apenas na exploração da menor experiência de um adolescente. A Maria Papoila confunde e fala em pedofilia como qualquer relação antes da idade do consentimento. Percebo muito pouco do assunto, mas creio que a idade do consentimento são, entre nós, os 16 anos.
Por uma das definições que transcreveu no seu post, parece que susbscreve até a ideia de que emitir uma opinião a favor da pornografia infantil é equivalente a violar uma criancinha e que quem o fizer deve ser torturado até à morte.
Registo também a indiferença que manifesta pela violação de uma jovem de 20 ou 30 anos. Nas suas próprias palavras, já tem "idade para saber defender-me e como manter a [sua] dignidade." Se for "ostracizada por causa disso, (...) já [tem]idade para saber lidar com a situação."
Permito-me ainda recordar-lhe que os horrores de Hitler foram há 60 anos; que os crimes de Pol Pot foram há 30. É um lugar comum falar em evolução da sociedade. Há realmente uma evolução técnica. A evolução moral ou é nula ou é tão lenta que não se consegue detectar nenhuma, pelo menos desde a Grécia Clássica.
Não há matéria nenhuma no mundo em que eu me atreva a considerar esclarecido. Por isso estou disposto a continuar a aprender consigo, com quem tenho um prazer genuino em discutir.
A terminar: retiro o exemplo do Darfur no meu comentário anterior. É demagógico e enfraquece a força indiscutível do meu argumento.
At 4/8/07 10:52, Maria Papoila said…
Caro Funes:
Realmente isto começa a ser divertido…
Fala-me da sua primeira intervenção e explica o que pretendia com ela.
A verdade é que no meu primeiro post, não me debruço a distinguir o que é um pedófilo do que não é. Não pretendi de modo algum ensinar a ninguém o que é um pedófilo. Saiba que não o fiz porque em muitos casos também tenho dúvidas e acho que compete aos profissionais da área psiquiátrica distinguir se determinado acto pode ser considerado pedofilia ou não. A partir do momento em que aqueles a quem compete classificam alguém como pedófilo, nada me pode impedir de sentir uma repugnância e uma raiva sem fim.
O facto de transcrever o texto da wikipedia, ou outro, não significa que concorde com tudo o que essas fontes dizem. O facto de indicar a fonte “wikipedia” devia, só por si, querer dizer que não se trata de opinião científica. Lembre-se do que lhe digo imediatamente a seguir a essas transcrições “sei que a sua provocação não pretende saber o que dizem estas fontes, já que basta uma busca na Internet para as encontrar”.
De seguida, no texto da minha autoria, não lhe falo uma única vez em adolescentes, nem em idade de consentimento, nem dos taradinhos que gostam de pornografia infantil.
No entanto, o Funes, depois de ler o meu primeiro post, tirou a conclusão precipitada de que a Maria Papoila era mais uma histérica levada por modas e que da pedofilia só conhecia a “Casa Pia”. Enganou-se. Então, não prestou a devida atenção ao texto da minha autoria que constava do segundo post e só viu aquilo que queria ver. Não é meu hábito ser completamente irracional e mesmo nesta questão, asseguro-lhe que não sou por completo. Não defendo sair por aí à caça de um qualquer suspeito de pedofilia, só afirmo que os pedófilos (não os suspeitos) merecem a morte.
É claro que não posso deixar de concordar consigo quanto aos excessos dos americanos, que quase sempre considero uma cambada de parvinhos.
Quanto à violação de mulheres adultas, está completamente enganado. Revolta-me, é claro que sim. Sou mulher e já tive que passar sozinha em locais menos seguros, já morei sozinha e já conheci gente muito estranha.
Assim, como noutros casos graves de atentados à dignidade e à vida humana, peço-lhe mais uma vez que não tire conclusões sem qualquer fundamento acerca do que eu penso ou não. O meu post tratava apenas do quanto a pedofilia mexe comigo, não se tratava de uma tese sobre os males do mundo e dos crimes contra a humanidade.
Falo-lhe de “idade para saber defender-me” em relação ao exemplo (admita, fraco) que deu das praxes académicas. De qualquer modo, tenho que reconhecer que uma mulher de 20 anos tem outras capacidades morais, físicas e psíquicas para se defender, do que uma qualquer criança. Não tem?
Quanto à lenta evolução da humanidade e da sociedade ao nível moral, isso não nos impede de querermos ir mais longe, de querermos ser melhores, mais racionais ou mais inteligentes. Nada nos impede de tentar fazer evoluir o pensamento humano junto dos que nos rodeiam. Acho mesmo que é nosso dever fazê-lo. É claro que a evolução moral é lenta. Veja o meu caso, que me revolto até às tripas contra um pedófilo mas não me mostro minimamente incomodada com a vontade animalesca de lhe espetar um tiro na cabeça! No entanto, o facto de eu ter vontade de o matar não legitima a sua conduta pedófila. Talvez legitime que me possam fazer o mesmo, mas isso, como já lhe disse, aceito.
De qualquer dos modos, muitas vezes, o sexo entre um adolescente e um adulto é também pedofilia, mas essa distinção de ser ou não ser, não me cabe a mim porque não possuo conhecimentos nem ferramentas para a fazer.
Deixe que me desculpe quanto à resposta tardia, mas como compreenderá, a vida lá fora, apesar das discussões teóricas sobre o mundo, continua. Bom fim-de-semana.
At 4/8/07 14:14, António Conceição said…
Cara Maria Papoila,
Releia o seu texto. É completamente absurdo. O que nele afirma é que fica à espera que um psicólogo, um psiquiatra, um juiz diga que determinado acto é um acto pedófilo e, depois de feita esta classificação, começa a sentir um indescritível horror.
Se o psicólogo ou o juiz concluirem que não, então o horror já não chega a nascer-lhe.
Registo também que considera a tortura e o homicídio, se lavados a cabo no contexto de uma praxe académica, coisas toleráveis e a invocação desses exemplos fraca.
Não entenda estas palavras como estando a menos prezar o seu pensamento. Acontece-nos a todos. Volta e meia proferimos uma série de disparates sem sentido. Eu sou pródigo neles e, mesmo nesta discussão, já tive que vir aqui retirar o exemplo demagógico do Darfur.
Quanto à tardia resposta, não se preocupe minimamente. Eu sei que há uns lunáticos que acreditam que há vida fora da blogosfera. Respeito-os.
De resto, esta é uma disucssão dura, mas livre. Ninguém tem obrigação nenhuma de responder ou aturar ninguém.
Se lhe vou respondendo, acredite, é porque estou a aprender consigo.
Mesmo quando o adopto o tom triunfal de quem a esmagou no debate. Como fiz neste comentário.
At 5/8/07 14:49, Calimera said…
Na 6ª feira à noite, escrevi, escrevi. Hoje fui dar uma olhada no resultado no nosso krido advogado e o meu coment desapareceu chuim que será que fiz? já devia estar a dormir lol
Bjs.
At 5/8/07 23:37, Maria Papoila said…
Queridos visitantes:
“Absurdo, disparates sem sentido, obsessão histérica, posts eufóricos e histéricos, descabidos, desproporcionados e disparatados, série de dislates”.
Estas palavras são, entre outras, empregues pelo caro Funes nos vários comentários que inseriu neste blog. Não as tomei por deselegantes, já que atribuí o seu uso a uma ânsia de melhor transmitir o que pensava, apoiado neste tipo de linguagem.
Publiquei um post sobre a repugnância que a pedofilia me provoca. Foi só. Não quis adoptar uma postura professoral, nem convencer ninguém da minha posição, apenas emitir a minha revolta e lançar um tema. Talvez por isso, por pretender quase sempre lançar um tema e ver o que acontece na zona reservada aos comentários, me senti tentada a publicar novo post sobre o assunto, tentando clarificar pela rama (porque não tenho habilitações para mais), o que era para mim a pedofilia e aproveitar para dar a conhecer algumas das definições e opiniões que pululam pelo mundo da Internet acerca do assunto. Gosto de discussões inteligentes e gosto de conhecer outras opiniões.
Algumas pessoas perguntam-me, parece que assustadas, se eu também desataria a matar quem atingisse os meus bens materiais. Não me parece coerente comparar bens materiais com a vida e a saúde humanas, mas esta é apenas a minha opinião. Provavelmente sou demasiado “desligada” de coisas materiais.
Assisti, deste lado do monitor, a tentativas de fazer equivaler os meios de defesa que os adultos têm ao seu alcance e aqueles de que uma criança é capaz. Também não me parece coerente. Um caloiro pode sempre declarar-se anti-praxe, uma mulher adulta, se for violada, saberá quase sempre, o que é aquilo de que está a ser vítima. Uma criança, que eu tenha conhecimento, não pode declarar-se anti-pedófilo e muito menos saberá definir o que é uma violação, quanto mais tentar esquivar-se a ela.
Perguntam-me também que horror tem o sexo com adolescentes que o querem e aceitam. A esta pergunta, que mais uma vez afirmo não ter a devida formação para esclarecer devidamente, apenas posso responder com aquilo que já ouvi a psicólogos:
Os pedófilos têm a capacidade de seduzir as vítimas e de muitas vezes as levar a pensar que estão apaixonadas e que é aquilo e aquela pessoa que querem para o resto da vida. Assim, será importante pesar entre a “idade de consentimento” e a capacidade mental para consentir em consciência e com maturidade, sem sujeição a coacção, seja ou não pela força. Nem todos os pedófilos forçam uma penetração, pelo menos a nível físico.
Neste âmbito, é evidente que há meninos com 15 anos que se prostituem. A questão é saber como foram parar a esse mundo e se têm maturidade suficiente para perceberem o que estão a fazer.
Vejo ainda afirmar que o que torna o acto pedófilo traumatizante não é o acto em si, mas o facto de, pela sua raridade, ele permitir que a vítima se sinta diferenciada dos demais. Parece que uma criança de 5, 10 ou 12 anos sabe perfeitamente que os amigos não passam pelo mesmo, até deve saber que pedofilia é crime e é uma coisa rara. Pelo contrário, muitas vezes, um dos argumentos dos pedófilos é o de que toda a gente o faz, mas ninguém conta, “porque este é o nosso segredo”.
Verifico ainda que para as pessoas pobres, sem instrução e a morar em bairros degradados, a violação, a pedofilia e o incesto são coisas normais, que não chocam e que estão destinadas a acontecer às meninas dessas famílias pelo menos nas próximas 100 gerações, porque as avós e as mães delas sofreram o mesmo. Eles que são pobres e desgraçados que se entendam e a sociedade não tem que intervir, nem sequer prender os pais ou padrastos que fazem todas estas coisas, porque engravidar adolescentes é um hábito estranho que aquela gente estranha tem.
Tiraram-se conclusões precipitadas acerca da minha opinião sobre outros crimes contra as pessoas, porque num post onde pretendia falar da minha raiva contra os pedófilos apenas falei…pasme-se… da minha raiva contra os pedófilos!
Assusta-me que o horror à pedofilia seja considerado “culturalmente determinado, circunstanciado e delimitado no tempo”. É que eu pretendo ter netos e bisnetos a salvo de adultos tarados, mas julgo que isso não vai acontecer, porque segundo as previsões, parece que a pedofilia vai deixar de ser um horror para passar a ser uma iniciação saudável à sexualidade.
Pretendo também deixar claro que em minha opinião, ser a favor da pornografia infantil não é equivalente a violar uma criancinha, mas lá que me deixa alerta e com “a pulga atrás da orelha”, lá isso deixa. Será que quem aprecia ver crianças envolvidas em actos sexuais não acabará por desejar e talvez até experimentar fazê-lo?
Tenho pena de não poder ler o texto que a Calimera escreveu na sexta-feira. Seria interessante ter aqui o ponto de vista de uma mãe de três meninos.
Quanto a mim, que não tenho filhos, mas hei-de ter, continuo a afirmar que se uma das crianças que me são próximas sofresse tamanho horror, matava o desgraçado. Mesmo que essas crianças sofram um atentado deste tipo na adolescência, continuo a afirmar que mato o raio do monstro. Querida Magnohlia, acredite que matava e, com a justiça que temos, julgo que não ficaria presa por muito tempo. Os pais são os heróis dos filhos e eu não decepcionaria os meus. Pergunto quantas pessoas não fariam o mesmo.
O problema é que quando a tempestade cai no quintal dos outros, não nos zangamos com o S. Pedro, mas quando é no nosso jardim, a coisa muda de figura.
Poderia continuar indefinidamente a esgrimir argumentos sobre esta questão, que reafirmo, me choca, me revolta e faz nascer em mim instintos violentos.
Decidi ficar por aqui. Aquilo que me parecia uma troca saudável de pontos de vista não foi mais que um exercício de retórica, onde se deturparam eufórica e propositadamente pormenores, onde se ignoraram deliberadamente as afirmações mais esclarecedoras ou aquilo que poderia beneficiar o suposto adversário. É pena, já que a Maria Papoila sempre gostou e se divertiu com discussões saudáveis e sem subterfúgios.
São bem vindas as discussões em que defendam pontos de vista que são realmente os vossos, não apenas desculpas para mostrar que são polémicos e diferentes das outras pessoas. O meu caro Vício diz sabiamente “pobres dos que se julgam mais racionais que os demais e donos do conhecimento”.
A Papoila não é mais que ninguém e não sabe mais que ninguém. Sabe aquilo que sabe e tenta aprender todos os dias, com os amigos, os colegas, os comentadores do blog, com as crianças e até com o desconhecido que passa na rua.
No mundo da Maria Papoila não há nada mais sincero que o abraço ou o sorriso de uma criança, nem nada melhor que a inocência das crianças que são quase como um quadro em branco, que podemos ajudar a pintar com as mais belas cores do universo. Por isso, as crianças são o melhor do meu mundo.
Um abraço.
At 6/8/07 21:26, fernanda said…
Maria Papoila
Ainda não sou avó, espero sê-lo um dia. E é claro que não suportaria que os meus netos fossem violados.
Se tal acontecesse talvez quisesse assassinar os/as pedófilos. Como já me apeteceu assassinar os vendedores de droga.
Mas não o faria. Nem preconizo a pena de morte.
Não estamos na América ou noutro país qualquer onde existe a pena de morte.
O nosso pequeno país tem muitas virtualidades. Não queiramos imitar
os que assassinam, a pretesto das leis que votaram, desumanamente.
Matar quem mata ou comete delitos gravíssimos, serve apenas para satisfazer o nosso desejo de vingança, a nossa raiva.
Pelo que a Maria Papoila escreve, é uma pessoa bem formada...e impulsiva.
Mas não acredito que depois de assassinar algum pedófilo, ficasse com a consciência tranquila o resto da sua vida.
Um beijo
At 7/8/07 00:39, Maria Papoila said…
Querida Magnohlia:
"Pretexto", não queira contribuir para o assassinato da língua portuguesa! ;))
Quanto ao assassinato do tal hipotético pedófilo, de facto, não ficaria de consciência tranquila, mas que dormiria melhor por saber que havia menos um monstro no mundo, isso posso garantir.
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