
Lembro-me de alguns brinquedos que fui tendo ao longo da infância. Quase nunca sei dizer quais deles recebi pelo Natal. Lembro-me de uma bicicleta cor-de-rosa, que ainda está em casa da minha mãe, porque me foi oferecida no primeiro Natal em que soube que o Menino Jesus não ia às compras. De qualquer das formas, apareceu-me à porta de casa um postal pousado no cesto da bicicleta: “Feliz Natal!” assinado, “Menino Jesus”.
Lembro-me também de que na maioria das vezes, fosse no Natal ou no meu aniversário, pedia livros. Livros da “Anita”, da colecção “Uma Aventura” e outros.
Hoje, a Maria Papoila tem um primo com 9 anos que além de ser filho único e neto único (rapaz), faz diferença de mais de 18 anos de todas as primas. É claro que mal nasceu, foi o “ai Jesus” de toda a família. Resultado: para além dos mimos, foi desde cedo bombardeado com os melhores, mais recentes e maiores brinquedos do mercado.
Foi um robô telecomandado do tamanho dele, um jipe alimentado a bateria eléctrica onde se podia sentar e conduzir por todo o lado, gruas telecomandadas, carros de todos os tamanhos e feitios, telecomandados, não-telecomandados, computador, Playstation, colecções inteiras de livros infantis, etc, etc, etc…
O engraçado é que desde cedo, a brincadeira favorita do Vítor foi ir para o quintal, escavar buracos na terra, e brincar às guerras de trincheiras, ou aos oásis, quando a mãe lhe deixava encher os buracos de água. Se passava por uma “loja dos 300”, pedia soldados de plástico, que em nada tinham a ver com os muitos “action man” que frequentemente lhe eram oferecidos. Ou então pedia carrinhos tão pequenos que lhe cabiam na pequena mãozinha. O robô, o jipe e todos os brinquedos sofisticados estão quase novos, por falta de uso, mas em contrapartida, os soldados plásticos e os carros de combate da “loja dos 300” estão gastos pela brincadeira.
É então que dou por mim a pensar que as crianças não precisam de grandes coisas para inventar uma brincadeira. Penso também que de toda a família, fui a única que resistiu a comprar brinquedos sofisticados. Mal o Vítor começou a ler, já eu lhe tinha oferecido uma História de Portugal ilustrada. Os resultados estão à vista: este período, a professora primária começou a ensinar aos meninos um pouco da nossa história e ficou surpreendida quando o menino moreno e sossegado começou a discutir factos históricos como gente grande.
Toda esta história, só para dizer que me parece cada vez mais ridículo gastar fortunas em brinquedos que não tornam as nossas crianças mais felizes, nem mais inteligentes, quando aqui mesmo ao lado, há crianças que não têm o que comer nem o que vestir. Dá que pensar, não dá?