Meninos à volta da fogueira
Esta noite a Papoila teve um sonho. Um sonho mau, a que normalmente chamamos pesadelo.
Era tudo a preto e branco, o que me surpreendeu, já que costumo sonhar a cores.
O ambiente parecia tirado de um livro de Dickens: muita humidade, nevoeiro e sujidade. As crianças andavam pelas ruas com um aspecto enfezado, descalças e com roupas esfarrapadas e insuficientes para o frio que se fazia sentir. Algumas levavam debaixo do braço, dois ou três livros muito velhos amarrados com um cinto. Outras guardavam galinhas que escarafunchavam atarefadamente o chão em busca de alimento.
Vi meninos que carregavam lenha e outros que pediam esmola. Vi também dois ou três meninos que deviam ser de famílias abastadas, porque não vinham descalços, usavam socas de madeira e tinham um casaco de fazenda.
Os carros particulares eram poucos e os transportes públicos caíam de podres. A maioria das estradas era em terra e não havia saneamento. Na maior parte das casas não havia casa de banho nem água canalizada.
Os homens calçavam “botas encebadas” já muito velhas e as mulheres usavam lenços amarrados aos queixos.
Tenho a certeza de que quase todos passavam fome. Na maioria das vezes, a única comida era pão e uma sardinha salgada para três.
Tal como por todo o lado, os ricos eram cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Os pobres trabalhavam literalmente de sol a sol e eram pagos com uns míseros tostões.
Ninguém se atrevia a mostrar descontentamento, porque a polícia os podia ir buscar e torturar até à morte.
É então que acordo, sentada no sofá e com a televisão ainda ligada, alguém diz que “foram votos de protesto”.
Não concordo. Infelizmente as forças do bem não se mobilizam da mesma forma que as forças do mal.
Algo vai mal no reino de Portugal quando pessoas da minha idade e ainda mais novas, dizem que Mário Soares não passa de um traficante de diamantes e que o Salazar foi o melhor governante que já tivemos. Sim, é verdade que ouvi isto da boca de muitos jovens. Dou-lhes o beneficio da dúvida, a culpa deve ser do sistema de ensino que não explica a História do País como deve ser. A culpa é também dos pais, que em casa não ensinam aos meninos à volta da fogueira como se ganha uma bandeira e o que custou a liberdade.
Era tudo a preto e branco, o que me surpreendeu, já que costumo sonhar a cores.
O ambiente parecia tirado de um livro de Dickens: muita humidade, nevoeiro e sujidade. As crianças andavam pelas ruas com um aspecto enfezado, descalças e com roupas esfarrapadas e insuficientes para o frio que se fazia sentir. Algumas levavam debaixo do braço, dois ou três livros muito velhos amarrados com um cinto. Outras guardavam galinhas que escarafunchavam atarefadamente o chão em busca de alimento.
Vi meninos que carregavam lenha e outros que pediam esmola. Vi também dois ou três meninos que deviam ser de famílias abastadas, porque não vinham descalços, usavam socas de madeira e tinham um casaco de fazenda.
Os carros particulares eram poucos e os transportes públicos caíam de podres. A maioria das estradas era em terra e não havia saneamento. Na maior parte das casas não havia casa de banho nem água canalizada.
Os homens calçavam “botas encebadas” já muito velhas e as mulheres usavam lenços amarrados aos queixos.
Tenho a certeza de que quase todos passavam fome. Na maioria das vezes, a única comida era pão e uma sardinha salgada para três.
Tal como por todo o lado, os ricos eram cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Os pobres trabalhavam literalmente de sol a sol e eram pagos com uns míseros tostões.
Ninguém se atrevia a mostrar descontentamento, porque a polícia os podia ir buscar e torturar até à morte.
É então que acordo, sentada no sofá e com a televisão ainda ligada, alguém diz que “foram votos de protesto”.
Não concordo. Infelizmente as forças do bem não se mobilizam da mesma forma que as forças do mal.
Algo vai mal no reino de Portugal quando pessoas da minha idade e ainda mais novas, dizem que Mário Soares não passa de um traficante de diamantes e que o Salazar foi o melhor governante que já tivemos. Sim, é verdade que ouvi isto da boca de muitos jovens. Dou-lhes o beneficio da dúvida, a culpa deve ser do sistema de ensino que não explica a História do País como deve ser. A culpa é também dos pais, que em casa não ensinam aos meninos à volta da fogueira como se ganha uma bandeira e o que custou a liberdade.
1 Comments:
At 26/3/07 16:34, Pitucha said…
A tua última frase está magnificamente introduzida no texto!
É triste, de facto.
Beijos
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