Mulheres
Tinha vinte e poucos anos e uma filha bebé nos braços quando o marido resolveu ir tentar a sorte para o Brasil. Dizia-se que se faziam grandes fortunas por lá. Nunca mais voltou, nem deu noticias. Era difícil ser uma mulher abandonada numa aldeia portuguesa do início do século XX. Não sei muito bem o que se passou a seguir. Sei apenas que casou de novo e que deu ao mundo mais seis filhos. Magra, muito magra, viveu quase até aos 90. Com 85, partiu o fémur e foi operada. Coração de uma miúda de 18 anos, disse o cirurgião. Ainda voltou a andar e a cozinhar! Chamava-se Helena, como a de Tróia e era a minha avózinha.
Ainda não tinha 30 anos quando um vizinho embriagado lhe matou o marido à porta de casa, a tiro de caçadeira, em frente aos cinco filhos menores. A vida desmoronou-se. Valeu-lhe o apoio financeiro do irmão. Pouco tempo depois, o filho mais novo era arrastado estrada abaixo pelo cavalo que montava. Os bombeiros apanharam os bocados do corpo espalhados ao longo de mais de um quilómetro. Com ela aprendi que ninguém morre de desgosto. Viveu mais de 80 anos, chamava-se Rita e tinha os olhos mais azuis do universo.
Teve 6 filhos que criou sozinha. O marido, médico, era um autêntico João Semana e quase nunca estava em casa. Comida não faltava, mas faltava companhia. No entanto, era feliz. Sempre muito calma, delicada e bem tratada, era o exemplo de uma verdadeira senhora. Com mais de 50 anos e já depois de ter celebrado as bodas de prata, foi abandonada de vez pelo marido. Manteve a calma e a postura. Viveu mais de 70 anos e partiu rodeada pelos filhos e pelo ex-marido. Chamava-se Olga e nunca a ouvi gritar, nem sequer alterar a voz.
Tem mais de 70 anos, quatro filhos e quatro netos. Depois de alguns anos de casamento, o marido quis ir para Lisboa, onde tinha uma boa proposta de trabalho. Já com 2 filhos pequenos nos braços, ela não o pode acompanhar. As saudades acabaram por ditar o regresso do marido a casa. Algum tempo depois, nascia uma nova criança, que acabou por partir muito cedo, com apenas 3 meses, vítima de meningite. Teve ainda mais dois filhos. Com mais de 60 anos, viu partir o neto mais velho, vítima de leucemia.
Recebe sempre a família com grandes abraços e manda-nos calar quando levantamos um pouco a voz, na tentativa de fazer valer um ponto de vista. Á volta dela, só quer paz e concórdia. As suas pernas, que sempre admirei, por serem as mais belas que até hoje vi, estão minadas pelas artroses e a mobilidade já não é o que era. Continua a ser exímia cozinheira e ainda hoje se fala na sopa de cebola da Natália. Espero que esta minha avó fique por cá pelo menos mais 20 anos.
Todas estas mulheres fizeram, ou fazem, parte da vida da Papoila. Aquilo que aqui escrevi sobre elas é muito pouco comparado com a vida cheia que tiveram. É certo que a narrativa se centra no sofrimento, mas a verdade é que estas mulheres sofreram, como quase todas as mulheres sofrem, mas resistiram estoicamente e sempre cheias de amor.
São mulheres simples que aqui vos deixo, mulheres que nunca souberam o que era o “Dia da Mulher”, mas que são exemplo para mim e para todas as mulheres.
Quando for grande quero ser como elas!
Ainda não tinha 30 anos quando um vizinho embriagado lhe matou o marido à porta de casa, a tiro de caçadeira, em frente aos cinco filhos menores. A vida desmoronou-se. Valeu-lhe o apoio financeiro do irmão. Pouco tempo depois, o filho mais novo era arrastado estrada abaixo pelo cavalo que montava. Os bombeiros apanharam os bocados do corpo espalhados ao longo de mais de um quilómetro. Com ela aprendi que ninguém morre de desgosto. Viveu mais de 80 anos, chamava-se Rita e tinha os olhos mais azuis do universo.
Teve 6 filhos que criou sozinha. O marido, médico, era um autêntico João Semana e quase nunca estava em casa. Comida não faltava, mas faltava companhia. No entanto, era feliz. Sempre muito calma, delicada e bem tratada, era o exemplo de uma verdadeira senhora. Com mais de 50 anos e já depois de ter celebrado as bodas de prata, foi abandonada de vez pelo marido. Manteve a calma e a postura. Viveu mais de 70 anos e partiu rodeada pelos filhos e pelo ex-marido. Chamava-se Olga e nunca a ouvi gritar, nem sequer alterar a voz.
Tem mais de 70 anos, quatro filhos e quatro netos. Depois de alguns anos de casamento, o marido quis ir para Lisboa, onde tinha uma boa proposta de trabalho. Já com 2 filhos pequenos nos braços, ela não o pode acompanhar. As saudades acabaram por ditar o regresso do marido a casa. Algum tempo depois, nascia uma nova criança, que acabou por partir muito cedo, com apenas 3 meses, vítima de meningite. Teve ainda mais dois filhos. Com mais de 60 anos, viu partir o neto mais velho, vítima de leucemia.
Recebe sempre a família com grandes abraços e manda-nos calar quando levantamos um pouco a voz, na tentativa de fazer valer um ponto de vista. Á volta dela, só quer paz e concórdia. As suas pernas, que sempre admirei, por serem as mais belas que até hoje vi, estão minadas pelas artroses e a mobilidade já não é o que era. Continua a ser exímia cozinheira e ainda hoje se fala na sopa de cebola da Natália. Espero que esta minha avó fique por cá pelo menos mais 20 anos.
Todas estas mulheres fizeram, ou fazem, parte da vida da Papoila. Aquilo que aqui escrevi sobre elas é muito pouco comparado com a vida cheia que tiveram. É certo que a narrativa se centra no sofrimento, mas a verdade é que estas mulheres sofreram, como quase todas as mulheres sofrem, mas resistiram estoicamente e sempre cheias de amor.
São mulheres simples que aqui vos deixo, mulheres que nunca souberam o que era o “Dia da Mulher”, mas que são exemplo para mim e para todas as mulheres.
Quando for grande quero ser como elas!
2 Comments:
At 13/3/07 16:37, Anónimo said…
Quando for grande quero ser como elas!
Já és... uma GRANDE mulher como elas!
At 16/3/07 09:34, Pitucha said…
Sigamos estes exemplos de força.
beijos
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