Urgência

Conta-me a minha mãe que no 1º de Maio de 1974, saiu à rua com uma amiga. A amiga, já casada e com dois filhos, desafiou a minha mãe a pegar na irmã mais nova e a entrar no carro. Julgo que era um FIAT 127, decorado com cravos e rosas vermelhas.
E lá foram elas, para o centro de uma pequena cidade do interior, alguns dias depois da revolução, com os 3 miúdos, que tinham acabado de entrar na escola primária, festejar o primeiro 1º de Maio em liberdade.
Quando chegaram a casa, a madrinha da minha mãe (que por acaso até era a sogra da tal amiga –ui!) passou-lhes um valente sermão, porque ainda tinha medo da PIDE e de que elas fossem detidas como comunistas.
Parecendo que não, aquelas duas mulheres tinham sido corajosas e inconsequentes. A força da juventude tinha falado mais alto.
Pergunto-me que raio podemos fazer nós agora que iguale tal atitude. Nada. Os jovens da minha geração não sabem por que lutar nem como lutar. Não temos nada para festejar. Estamos cada vez mais normalizados, “standardizados”. Não fazemos nada de diferente do colega do lado, porque parece mal, porque não queremos ser interpretados como loucos. Faltam ideais, porque já não acreditamos em nada, apenas na vidinha normal, e não levantamos ondas. Será falta de uma liderança carismática e inspiradora?
“É urgente um barco no mar.(…) É urgente inventar alegria.(…) É urgente descobrir rosas e rios e manhãs claras.(…) É urgente o amor, é urgente permanecer.”