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Teorias

A Maria Papoila é a típica portuguesa, que tal como todos os bons portugueses tem sempre uma teoria acerca de tudo e de todos e não vê mal algum em impingir as suas opiniões aos mais desprevenidos...

segunda-feira, junho 05, 2006

Histórias da vida

Era um rapaz louro. Não louro como uma estrela de cinema, mas de um louro com cara de enjoo ou de doença. Tratavam-no por um diminutivo acabado em “inho”. Sempre muito magro, branco e franzino, decidiu, aos doze anos, que queria ser padre. Foi então que os pais, extremosos e muito católicos, sentiram o coração pular de alegria, porque era sempre “bem” ter um padre na família e o enviaram para o seminário mais próximo de casa.
Foi aos 17 anos, quando a irmã mais nova lhe morreu com uma leucemia, que decidiu deixar o seminário.
Aos 18, acabou o 12º ano e atirou-se de cabeça nos negócios do pai. Era considerado “um bom partido” e as mães das meninas do bairro tentavam sempre apresentar-lhe as filhinhas como meninas graciosas e de virtude.
Um dia, sentiu o coração bater-lhe mais forte enquanto aviava o pedido da filha da Sra. Conceição. A Conceição era uma senhora com cerca de 50 anos que tinha sido mãe solteira por três vezes, de três malandros diferentes. Os filhos nunca tinham passado fome, que ela era trabalhadora, mas a má fama acompanhava-a a ela e às duas filhas, para onde fossem, desde que houvesse quem as conhecesse.
O “inho” para espanto de todos, começou a meter conversa com a mais nova da Conceição sempre que a rapariga ía à mercearia comprar um quilo de arroz ou um frango do campo.
Um dia, o pai, à hora do jantar, perguntou-lhe o que significava aquela atenção dedicada à filha da São e deixou bem claro, que um rapaz na posição dele, que quase fora padre, e que até cantava no coro da igreja, devia arranjar uma rapariga do mesmo nível.
O “inho” sempre obediente, engoliu em seco durante alguns meses e sempre que a filha da Conceição entrava na mercearia, arranjava sempre o que fazer para que fosse o seu pai a atendê-la. A rapariga, percebendo o afastamento, deixou de ir à loja. Ía sempre directa de casa para o trabalho e do trabalho para casa, nada lhe interessava e amaldiçoava os três malandros que lhe tinham emprenhado a mãe. Em pouco tempo, e perante tanto empenho no trabalho, a rapariga pode mudar de casa com a mãe e os dois irmãos.
O “inho” entre o ensaio de uma música para a comunhão e outra para a acção de graças, tinha sido abordado por uma menina de 35 anos, solteira, que cantava no coro e que nunca faltava aos ensaios. “Boa rapariga.”- disse-lhe logo o pai. “Tem um bom emprego.”- frizou a mãe. Passado um ano casaram numa festa de arromba.
Seis meses depois, já todo o bairro sabia que o casamento não ía bem. Questões de cama... Ele não dava atenção suficiente à mulher e ela tinha uns pés grossos, grandes e todos tortos, já para não falar no resto. Até se dizia que ele já tinha levado umas bofetadas, porque tinha ficado parado à porta do apartamento, a olhar para a filha da Conceição que agora morava num bom prédio, ali, no mesmo andar que os recém-casados.
O Padre que os casou falou com eles. Não havia nada a fazer, era impossível continuar aquele casamento.
O “inho” lá voltou para casa dos pais e não tardou que estes achassem que a filha da Conceição até era uma boa opção para um rapaz divorciado. Estava bem na vida e não lhe eram conhecidos quaisquer namoros ou devaneios.
Casaram pelo civil, sem festa,na presença dos pais e dos padrinhos.

2 Comments:

  • At 11/7/06 20:24, Blogger António Conceição said…

    Eu só não percebo é porque é que a Conceição ainda o quis. Afinal, ele não passava de um "inho" e ela já tinha dado mostras de ser uma mulher de armas.
    Sabe uma coisa, Maria Papoila? Não dou grande coisa por este segundo casamento do Inho.

     
  • At 12/7/06 02:55, Blogger Maria Papoila said…

    Pois, eu também não acreditava que durasse, mas o tempo passa e até já há inhozinhos!

     

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