hit counter

Teorias

A Maria Papoila é a típica portuguesa, que tal como todos os bons portugueses tem sempre uma teoria acerca de tudo e de todos e não vê mal algum em impingir as suas opiniões aos mais desprevenidos...

sábado, dezembro 15, 2007

Querido Pai Natal





Querido Pai Natal:

Este ano, após tantos anos sem te escrever, decidi pedir-te um presente.
É um presente para mim, mas não só, é um presente para o meu Douro.
Sabes, Pai Natal (desculpa tratar-te por tu, mas já te conheço há tanto tempo), o Douro está à beira da ruptura. Os produtores de vinho estão quase na miséria (excepto, claro os senhores ingleses que há tantos anos vivem por lá e possuem quintas que nunca mais acaba), os comerciantes, então, nem te digo! O meu Douro precisa mesmo da tua ajuda. É uma região linda, linda, linda, mas esquecida por aqueles que nos governam e governaram.
O Douro precisa de ajuda, grita por ajuda, mas parece que ninguém ouve. Ainda aqui há dias ouvi algumas pessoas que moram e trabalham por lá, dizerem que não sabem de que vive a região neste momento. Suponho que esteja a viver das parcas economias, que desconfio estarem no fim…
No Douro produz-se o Vinho do Porto, que era um vinho exclusivo, que só podia ser produzido por lá, com as uvas de lá e pelas mãos dos de lá, mas agora, por causa de uma decisão de um organismo internacional qualquer, o vinho já pode ser produzido na Austrália, ou noutros países à volta do mundo. Como resultado disto e de outras coisa que demorava muito a explicar, o trabalho na lavoura também escasseia.
O Douro é uma região muito bonita, dizem que tem grande potencial para o turismo, mas sabes, as empresas metem os turistas nos barcos, sobem o rio e não param em quase lugar nenhum, porque dentro dos barcos há camas, comida e música tradicional. Essas empresas geram emprego, claro, mas a maior parte dos empregados nem são do Douro, são de uma cidade muito grande, o Porto, não sei se conheces. Essas empresas também estão, na sua maioria, sedeadas nessa tal cidade grande. Ou seja, neste momento o Douro funciona como um centro comercial aos Domingos: vê-se muita gente a passear por lá, mas ninguém entra nas lojas, nenhum turista gasta um único euro, nesse enorme centro comercial, cheio de montras lindas, cujas lojas não são visitadas. O centro comercial fica sujo, é usado, mas lucros, nem vê-los. Sim, eu sei que o dinheiro não é tudo, mas sem dinheiro morre-se de fome e o Douro está a viver das últimas migalhas.
Agora o governo pretende criar novas regiões de turismo e ouvi dizer que o modo como o tencionam fazer, vai prejudicar ainda mais o meu Douro.
Assim, querido Pai Natal, como esta carta já vai longa, termino, pedindo-te de presente para o meu Douro, prosperidade, dirigentes corajosos e investidores visionários.
Obrigada e Feliz Natal!

terça-feira, dezembro 11, 2007

Um outro Natal

Como quase toda a gente, a Papoila gosta do Natal. Gosto do arroz de polvo e da açorda de bacalhau que a minha mãe e a minha avó fazem na noite da consoada. Gosto da balbúrdia que eu e a minhas primas e todas as mulheres da casa fazem, ao longo da noite. Gosto de ver o meu avô a tentar perceber aquilo que dizemos enquanto falamos todas ao mesmo tempo, enquanto abana a cabeça e diz”não percebo nada”. Gosto da casa decorada e das músicas natalícias. Gosto do dia 25, em que nos sentamos em volta da mesa, enquanto a lareira torna o ambiente realmente quente e jogamos uma coisa qualquer. Gosto dos familiares e amigos que todos os anos passam por lá, a meio da tarde, para trocar presentes e carinho. Aquilo que eu não gosto é de comprar presentes por obrigação. Cada vez mais acho um disparate a corrida às compras, de lista na mão, a tentar descobrir para quem ainda não se compraram presentes. Eu gosto de oferecer presentes, mas a verdade é que “comprar por atacado” me cansa e me faz sentir que aquele presente de natal, comprado entre tantos outros, não tem o mesmo valor.
Aqui há dias ouvi uma pessoa de uma família muito grande dizer que antes do natal tiravam à sorte para ver quem oferecia presentes a quem. Pareceu-me bem! Cada um de nós ter um familiar específico a quem oferecer um presente, que vamos poder escolher com calma e carinho, em vez de corrermos para todas as lojas, envolvidos numa euforia consumista cada vez mais sem sentido. Neste século em que tudo dura um segundo, em que tudo é instantâneo, não fará sentido viver um Natal à moda antiga? Como os do tempo em que os recursos eram poucos e toda a gente ficava contente por receber umas meias novas, ou umas luvas quentinhas, tricotadas pela avó? Não estaremos na altura de dar a volta a isto e viver o Natal de forma humilde, gastando o nosso dinheiro com aqueles que mais precisam, em vez de oferecermos algo quase inútil àquela pessoa da família que já tem tudo?
Há 2000 anos, nasceu um menino numa manjedoura. Um menino pobre que veio ensinar o que é o amor e a caridade. Três reis levaram-lhe presentes e só um deles lhe levou ouro, os outros levaram incenso e mirra (seja lá isso o que for). E se neste Natal pensássemos mais nos outros, naqueles que estarão lá fora, ao frio e sozinhos? E se neste Natal oferecêssemos presentes a um desconhecido, será que mudaríamos o mundo? Mudaríamos! Pelo menos o mundo daquela pessoa…
Feliz Natal!

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Cirque du Soleil

No que toca a cultura, os portugueses da classe média têm um hábito: mesmo que não gostem do que vêem, aplaudem e não criticam em público. Não vá alguém ouvir e rotulá-los como “parolos”.
Foi isto que mais uma vez confirmei no último sábado em Lisboa, no Pavilhão Atlântico.
O Cirque du Soleil veio pela primeira vez a Portugal. Cá fora viam-se crianças e ouviam-se os pais a ameaçar: “porta-te bem, senão não vais ao circo”.
Os bilhetes para ver o circo eram caríssimos, mas esgotaram em poucos dias. Valia a pena o investimento, para ver o circo mais famoso do mundo!
Depois de termos esperado que o jogo Benfica-Porto terminasse, lá começou o espectáculo, com quase 20 minutos de atraso.
Abriu com uma exibição de multimédia, música e dança. Fantástico, dissemos nós. A coisa começou a deixar de ser fantástica quando começamos a verificar que o espectáculo não era circense. Era um espectáculo multimédia, apresentado pelo Cirque Du Soleil! Muita música, muita dança, muitos efeitos multimédia e muito pouco circo.
A certa altura começou a ser entediante. Reproduziam-se músicas provenientes de outros espectáculos de sucesso, outrora produzidos pelo Cirque, mas pouco mais. No fim de cada música, o público aplaudia, sem entusiasmo. Algumas pessoas começaram a sair, especialmente as pessoas acompanhadas por crianças. Resignei-me a apreciar um espectáculo multimédia, em troca do esperado circo. Para espectáculo multimédia não estava mal… Chegados ao fim do espectáculo, o Pavilhão Atlântico explodiu, as pessoas levantaram-se e aplaudiram. Não houve segunda vaga de aplausos, porque a tal explosão de aplausos cessou em poucos minutos. Os artistas não tiveram oportunidade de voltar ao palco. Á saída, fiz de propósito e pus-me à escuta: ninguém criticava, ninguém se confessava desiludido, mas os aplausos e a sua duração não me deixaram margem para dúvidas.
Chegada a casa, fiz uma busca na net. Pessoas de todos os lugares do mundo “choravam” o dinheiro dispendido para ver “Delirium”, o mesmo espectáculo que eu acabara de ver!
É que o Cirque Du Soleil não é aquilo que apresentaram no sábado aos portugueses! O Cirque Du Soleil é um espectáculo frenético de trapezistas, equilibristas e contorcionistas, ao som de música ao vivo. O Cirque Du Sóleil tem performances com fogo, com trampolim, com palhaços! O Cirque Du Sóleil não esteve ainda em Portugal, desenganem-se os que foram ao Pavilhão Atlântico! O Cirque estará verdadeiramente em Portugal, pela primeira vez, em Abril de 2008! Aí sim, vai valer a pena! Digo eu, que vi o espectáculo “Alegria” ao vivo e espero, em Abril, ver "Quidam" e sair de lá satisfeita!