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Teorias

A Maria Papoila é a típica portuguesa, que tal como todos os bons portugueses tem sempre uma teoria acerca de tudo e de todos e não vê mal algum em impingir as suas opiniões aos mais desprevenidos...

quarta-feira, novembro 30, 2005

Mulheres

Como é possível que em pleno século XXI e em plena Europa, ainda haja mulheres a morrerem vítimas de violência doméstica?
Quem são estas mulheres? Como reconhecê-las para poder ajudá-las?
Julgo que quando falamos de situações de violência doméstica pensamos logo naquelas mulheres pobres, cujo marido chega bêbado a casa e que não tem comida para dar aos filhos. A verdade é que a violência doméstica acontece em todos os estratos sociais e quanto mais alta for a classe social, mais camuflados são os maus tratos.
Como mulher não posso deixar de me revoltar. Porque raio estas mulheres continuam com essas bestas que se apelidam de maridos e que na maioria das vezes foram com elas à igreja jurar-lhes respeito, amor e fidelidade? Porque raio estas mulheres levam uma bofetada e não ripostam com uma joelhada? Porquê? Porquê?
Será porque muitas vezes a violência física é precedida de uma estratégia de violência psicológica e moral? Por vezes o agressor monopoliza de tal forma a situação que a vítima fica sem capacidades de defesa.
Há alguns anos, uma senhora que conhecia a minha mãe entrou lá em casa e sem ter existido qualquer intimidade anterior, desatou a contar as razões do seu divórcio.
Aquela mulher tinha sido capaz de pedir o divórcio, mas mesmo assim, fê-lo aterrorizada. Aquela mulher tinha levado tareias de pau de vassoura, tinha dormido ao relento sem roupa, tinha visto o marido levar prostitutas para a cama dela, etc, etc...
Já passaram alguns anos desde que essa mulher se divorciou, mas ela continua medicada com anti-depressivos e outros tipos de drogas que lhe permitem andar em pé. Nunca mais recuperou do trauma, do medo, da humilhação. O ex-marido está sozinho, mas de óptima saúde.
Assim, sentindo-me impotente perante casos que com certeza existem, mas que não conheço, resta-me apelar a todas as mulheres que estejam atentas e que ao mínimo sinal de humilhação ou de medo, estejam alerta e que se defendam ou que pelo menos marquem a sua posição e o seu território.
Nenhuma mulher merece ser ou morrer vítima de violência doméstica. Nenhum ser merece.

segunda-feira, novembro 28, 2005

Papagaios

Este fim-de-semana, a Papoila foi ao Teatro ver a fantástica Marília Pêra interpretar “Mademoiselle Chanel”. É um monólogo interessante em que ficamos a saber muito sobre Coco Chanel e ainda por cima nos regalamos só de ver os modelitos que vão surgindo constantemente em cima do palco.
A certa altura, Chanel diz o seguinte: “Adoro falar, falar sem parar, mas há cada vez menos gente que goste de ouvir!”

Esta frase fez-me pensar, até porque a Papoila quase que chegava tarde ao Teatro pela simples razão de ter uma vizinha que adora falar, falar sem parar.
É verdade: há cada vez menos pessoas dispostas a ouvir. Conheço vários exemplos de pessoas que são capazes de falar durante horas seguidas, de vários assuntos entrecortados com outros assuntos variados, sem se darem conta de que já chega e que no fundo, o que dizem já não faz sentido.
(Deixo já esclarecido que a Papoila também adora falar!!)
Porquê que isto acontece?
Consigo pensar em várias razões, quase todas baseadas nos exemplos que me são mais próximos.
A solidão será provavelmente a razão que em primeiro lugar nos ocorre a todos, mas por vezes, o tipo de profissão também poderá ser responsável por este “Síndrome do Papagaio”.
Conheço também pessoas que tiveram experiências muito traumatizantes e que falam sem parar de tudo, menos do trauma.
Não posso esquecer quem fala apenas de si e anseia dar a conhecer ao mundo todos os seus problemas e todas as suas alegrias.
Outro exemplo terrível é o das pessoas que falam sem parar de toda a gente que conhecem, mesmo que o ouvinte nunca tenha conhecido a tal pessoa.
Parece-me que a nossa sociedade tem aqui um problema. Há por aí um sociólogo que me possa explicar as razões e as consequências disto?
Enquanto não aparece por aqui o tal sociólogo, deixo uma sugestão: vamos começar a ouvir mais o próximo. Vamos prestar atenção ao nosso cônjuge, ao nosso colega, ao nosso amigo, ao nosso pai! Vamos ouvir o que temos para dizer uns aos outros e acabar com os monólogos.
É com a troca de ideias e de experiências que uma sociedade evolui.
Agora a Papoila vai calar-se e “ouver” outras opiniões.

quinta-feira, novembro 17, 2005



Hoje a Papoila ficou muito ofendida!!
Não é que um tal de A. A. Gill, crítico de gastronomia em Inglaterra, não gostou de um restaurante de comida portuguesa que visitou e desatou a desancar todo o nosso país?
Os insultos abrangem quase todas as coisas de que nos orgulhamos. Assim, vou deixar aqui algumas respostas a este senhor Gill, mas em Português, porque se eu sei falar e escrever em Inglês, ele, que é um ser tão superior, vai com certeza entender o meu Português.

Diz o tal senhor que os portugueses, que outrora construíram um império, conhecidos por terem boas relações com os naturais das terras que colonizaram, só o fizeram porque na verdade, e vou tentar traduzir à letra, só queríamos dar umas “quecas”.
Aqui comecei a pensar que a mulher do senhor Gill o deve ter trocado por um português...

O tal senhor prossegue e desafia os leitores a indicarem pelo menos três portugueses famosos que não tenham sido marinheiros.
Acho que consigo nomear alguns, mas entretanto percebi que deve bastar um para deixar um inglês que não seja adepto do Chelsea engasgado. Pois é mesmo esse! José Mourinho... Isto para não falar de Figo, Cristiano Ronaldo, Mariza, Amália, Eusébio ou Saramago (mas este, ele não deve conhecer, porque o tal Gill não deve ter cultura que atinja isso!)

Quanto a gastronomia, diz ele que em Portugal, as entradas não passam de cópias das tapas espanholas e depois, só se aproveita o bacalhau, porque o resto são só caldos gordurosos...
Bem, parece que vou ter de convidar este senhor a visitar o nosso país, que é coisa que ele já assumiu nunca ter feito e levá-lo a provar a sopa de cação, o cabritinho de Armamar, o leitão assado, que são coisas bem mais saborosas, mais saudáveis e menos gordurosas que as tão britânicas batatas fritas cobertas de vinagre e acompanhadas com peixe... frito.

A. A. Gill arrasa a NOSSA PÁTRIA, mas não faz mais do que todos nós já fizemos pelo menos uma vez. Ele fá-lo certamente por ignorância e nós porque o fazemos? Será porque adoramos criticar os outros e nos esquecemos que os outros, a quem costumamos chamar “os portugueses”, somos todos nós?

Um dos candidatos à Presidência da República repetiu por várias vezes no seu discurso a palavra PÁTRIA. Ultimamente, ”os portugueses” só falam em PÁTRIA nas noites em que joga a selecção nacional.
Portugal só poderá levantar a cabeça e sair da crise no momento em que todos enchermos o peito de orgulho para falar da NOSSA PÁTRIA.
Nessa altura, nenhum inglês de segunda terá coragem de escrever um texto como o de A. A. Gill.
É como aquele anúncio: se não gostarmos de nós, quem gostará?



Se quiserem, vejam o artigo do tal inglês:
http://women.timesonline.co.uk/article/0,,18030-1730930,00.html

quinta-feira, novembro 10, 2005

Para ler e pensar

Gostei muito do seguinte texto e nada mais lhe posso acrescentar:

"Precisa-se de matéria prima para construir um País"

Eduardo Prado Coelho - in Público

"A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos ... e para eles mesmos. Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos. Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito. Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica. Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar alguns.Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes. Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas. Não. Não. Não. Já basta.Como "matéria prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa. Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA" congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não noutra parte... Fico triste. Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa? Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente abusados! É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda... Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias. Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez. Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO.E você, o que pensa?.... MEDITE! "